Volta para casa
Sascha e seus criadores
Um dos quatro protótipos Sascha na corrida Riesrennen de 1922 em Graz, Áustria. À esquerda do veículo, vemos o Conde Alexander von Kolowrat; à direita, o jovem Ferry
De volta aos primórdios: há mais de 100 anos, Ferdinand
A manivela é girada com força, o pedal do acelerador é levemente pressionado – e então ouvimos o som que todos estão esperando. Pedestres sacam o smartphone, donos de cafés saem para o terraço, rostos curiosos aparecem nas janelas de casas antigas históricas. Todos sabem: esse ronco não é de um veículo qualquer. E têm razão! A poderosa sinfonia vem do motor refrigerado a água de quatro cilindros e 1,1 litro de um Austro-Daimler ADS-R – um carro de corrida projetado por Ferdinand
Viagem no tempo
Jan Heidak, supervisor técnico de veículos na oficina do Museu
Sonho de um visionário
Excursão no cascalho
Nos treinos antes da corrida de Riederberg, na Baixa Áustria, o Conde Kolowrat pilotou pessoalmente um dos quatro protótipos.
Em 1920, Ferdinand
Estreia na Sicília
O Austro-Daimler ADS-R na
Três deles largaram na categoria de 1,1 litro. Kolowrat, que dirigia pessoalmente um protótipo, saiu por danos no motor, mas os outros dois conquistaram uma vitória dupla na classe. O quarto carro de corrida Sascha, equipado com motor de 1,5 litro, disputou a categoria mais forte, que era aberta – e depois de 432 quilômetros, 6 mil curvas e até 12,5% de inclinação, chegou em 19º lugar na classificação geral. Velocidade máxima: 144 km/h. Na imprensa italiana, o ADS-R foi celebrado como “revelação da
Com Wiener Neustadt como cenário, Sascha também faz boa figura mais de 100 anos depois, com a caixa de ferramentas de madeira na traseira.
Finalmente em casa
Área dos boxes
Alfred Neubauer e o mecânico de corrida Georg Auer pilotam Sascha em 1922 na pista de testes da Austro-Daimler.
De volta a Wiener Neustadt em 2023. Raios de sol iluminam a viela Herrengasse, com seus muitos edifícios tombados e história que remonta parcialmente à Idade Média. Jan Heidak pisa no acelerador – e depois de mais de 100 anos, Sascha roda novamente neste lugar, percorrendo a cidade antiga, circundando sua catedral românica tardia, cruzando o portão da torre Reckturm do século XIII. Provavelmente, uma visão parecida com a que os moradores de Wiener Neustadt desfrutaram dele na época. Embora não tenham restado muitas testemunhas dos feitos de
Hoje, Heidak é o único que conhece a sensação de dirigir o carro. “O Sascha foi construído para terrenos diferentes. Tem aderência demais, muita velocidade e alta potência”, diz ele, em uma pausa no protocolo. “Mas é muito divertido. Sentimos todas as vibrações. Ouvimos o motor funcionando. Não tem direção assistida. Exige muita força e sensibilidade.” Além disso, usar óculos é imprescindível, pois as rodas dianteiras levantam poeira da estrada. Mas, para Heidak, tudo isso é um prazer. “É uma enorme honra dirigir nesta situação.”
Lições de Ferdinand Porsche
Jan Heidak e Kuno Werner
colocam o motor de quatro cilindros para rodar novamente.
Ele então sobe de volta no carro de corrida, que não tem cinto de segurança nem iluminação. Além do lugar do motorista, há um assento de emergência para o mecânico – comum em carros de corrida da época. Os pedais também são peculiares: embreagem à esquerda, freio à direita, acelerador no meio. “Só depois do início do projeto percebemos que ainda havia muito a compreender em Sascha”, diz o mestre da oficina, Kuno Werner. “Para conseguir recuperar seu trem de força, precisamos pensar como os projetistas da época.” Mais de 700 veículos históricos são mantidos no Museu
Renascer é só o começo
Sucesso no teste
Depois de dois dias em Wiener Neustadt, Jan Heidak e Kuno Werner fazem um balanço: agora Sascha voltou a funcionar tão bem quanto há mais de 100 anos.
À tarde, o carro para de ligar repentinamente. Acionar a manivela, empurrar – nada funciona. Um primeiro nervosismo se alastra na equipe. Mas não em Werner e Heidak. Sem trocar muitas palavras, eles começam a trabalhar. Cada movimento é calculado. E menos de 15 minutos depois, voltamos a ouvir o som, agora familiar, do carro de corrida. “Tivemos que trocar uma vela da ignição”, explica Werner. “Intercorrências são normais com um veículo tão antigo em operação intensa. Já contávamos com isso.” O próprio Werner é a prova de que o aprendizado nunca termina. Ele trabalha na
O especialista de 29 anos dá uma volta final, passando pela rua Burggasse e ao longo da histórica muralha da cidade. Kuno Werner sorri, satisfeito, no meio-fio. “O feito de trazer Sascha de volta à sua terra natal é resultado de um grande esforço de equipe”, diz ele. Com a ajuda de colegas do Centro de Desenvolvimento de Weissach, funcionários aposentados e prestadores de serviços externos, a restauração foi um projeto gigantesco. “Mas foi só o começo”, enfatiza Werner. Sascha deve continuar envolvido nas atividades da empresa no futuro – como uma prova viva das raízes do DNA
Jan Heidak segue os passos do Conde Kolowrat no Akademiepark de Wiener Neustadt.
Texto Matthias Kriegel
Fotos Heiko Simayer