Porsche - “Reger é uma profissão curiosa”

“Reger é uma profissão curiosa”

[+]

Andris Nelsons: nascido em Riga, em 1978, Andris Nelsons é um dos mais renomados maestros da música clássica. Ele é diretor musical da Orquestra Sinfônica de Boston e já dirigiu, entre outras, as Filarmônicas de Berlim e de Viena.

A Gewandhausorchester é considerada a mais antiga orquestra da Alemanha fundada por cidadãos (1743). Seus mais famosos mestres de capela foram Felix Mendelssohn Bartholdy, Wilhelm Furtwängler e Kurt Masur. Desde 2011 a Porsche é Global Partner da Gewandhaus. Com seu apoio e patrocínio, foi possível retomar em 2014 a conceituada série de concertos clássicos ao ar livre, no parque Rosental de Leipzig.

Andris Nelsons, diretor musical em Boston e designado mestre de capela da Gewandhaus em Leipzig, fala sobre o respeito por um marcante passado e o arrojo de um espírito jovem.

Seu contrato em Leipzig começa oficialmente em março de 2018. O que vincula o senhor com a cidade e a Gewandhaus?
Já no meu primeiro trabalho com a Gewandhausorchester fiquei impressionado com a determinação pela qualidade e o respeito com que se trata os grandes compositores, sem que isso se transforme em veneração. O que reina é um espírito jovem, mas consciente da importância da tradição. Especialmente na música. Até na cafeteria é possível sentir esta “aura”. Também na cidade se nota que a Gewandhaus é importante, mesmo para as pessoas que não frequentam concertos de música clássica.

Quais os principais pontos do seu futuro programa?
Até a minha incorporação oficial haverá uma transição fluida com um repertório alemão e eslavo. Em maio e junho de 2017 teremos quatro “Grandes Concertos” com obras de Schubert e Bruckner. Em março de 2018 farei meu concerto inaugural com Bruckner e estreia da obra do compositor contemporâneo de música clássica Jörg Widmann. Ou seja, nada radical. Eu me deixarei guiar pelas raízes musicais da cidade e verei como posso me adaptar a elas.

Como o senhor dividirá seu tempo entre Leipzig e Boston?
Eu passarei sempre alguns meses em cada cidade. Também combinamos aprofundar a parceria com a Orquestra Sinfônica de Boston. Ambas podem, por exemplo, programar um concerto no qual uma executa algumas obras do repertório da outra, e vice-versa. Considero as duas orquestras como minha família musical e tenho por elas a mesma afeição.

O senhor é conhecido por se relacionar com suas orquestras de igual para igual. Como o senhor definiria o seu papel?
Reger é uma profissão curiosa no âmbito musical, já que não produzimos nenhum som, mas “apenas” influenciamos no resultado da interpretação. E isso requer uma grande dose de psicologia e intuição. Eu mesmo já toquei em orquestras e sei o quão importante é o respeito, a confiança e a motivação. Quero criar uma atmosfera experimental na qual os músicos são encorajados a manifestar sua individualidade sem receio de serem rejeitados. Com uma orquestra tão tecnicamente qualificada como a da Gewandhaus, é fácil conseguir assim um espaço próprio para criar música.

Qual é o papel da música clássica em relação aos outros gêneros musicais?
A música clássica não é tão popular e cotidiana como o pop e o jazz, mas não há motivo para lidar com ela de forma elitista ou apresentar-se com arrogância. Como é natural, cada gênero musical requer uma completa dedicação. Admiro artistas dos mais variados estilos: Louis Armstrong, Anne-Sophie Mutter, os Beatles ou Herbert von Karajan, pois todos eles se entregaram ou se entregam plenamente à sua arte. Mas também hoje os grandes mestres do jazz, pop e rock se inspiram em uma fonte comum. A música clássica é a origem de tudo.

Entrevista Ralf Niemczyk