“Dez minutos de pura loucura”

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Jeff Zwart

O diretor de cinema e fotógrafo profissional californiano (61 anos) participou 14 vezes da corrida nas Rocky Mountains, sempre ao volante de um Porsche 911. Ele conquistou oito vitórias na sua categoria e bateu vários recordes de “time attack”.

A Pikes Peak International Hill Climb, também conhecida como a “subida de Pikes Peak”, comemora em 2016 os seus 100 anos de existência. Jeff Zwart é o piloto que mais vezes correu ao volante de um Porsche na história desta lendária corrida de montanha.

Jeff, quando foi sua primeira participação na “corrida às nuvens” de Pikes Peak?
A primeira vez que corri na subida de Pikes Peak em um Porsche foi em 1994. O percurso me impôs tremendo respeito. Há muitas curvas fechadas com encostas íngremes e profundas, e muitos trechos da estrada parecem idênticos, mas não são. Se você entra mal em um, as consequências podem ser terríveis e até fatais. Eu havia visto muitos filmes sobre a corrida, mas estar ali dirigindo é algo completamente diferente.

Com que Porsche você dirigiu em 1994?
O mesmo 964 Carrera RSR com motor de 3,8 litros com o qual havia corrido o campeonato ProRally nos Estados Unidos, mas equipado com um motor turbo de 550 cv – com isso o carro ficou com 250 cv a mais do que na versão de rali. Ele era muito veloz e eu enlouquecia no comando dessa potência toda. Venci de primeira a categoria livre.

O que há de tão especial nessa corrida de montanha?
Você tem uma semana para treinar e então apenas uma única oportunidade. Só há uma única etapa. Tudo vai ao limite: a temperatura do motor, o desgaste dos pneus e também seu próprio corpo, pela falta de oxigênio por causa da grande altitude. A montanha é um organismo próprio: embaixo, na largada, pode fazer sol e calor, enquanto que lá em cima, a 4.000 metros de altura, pode estar nevando. Você nunca sabe o que vem pela frente.

Onde se decide a corrida?
O trecho mais alto é incrivelmente veloz, você vai praticamente às cegas. A essa altitude já não há árvores que sirvam de orientação, e o único limite é o horizonte. Lá em cima é preciso arriscar tudo. Quem é capaz disso e conhece bem o terreno, está claramente na vantagem.

Por que você acredita que um Porsche é o carro de corrida ideal para a Pikes Peak?
Quando entro em um Porsche tenho a impressão de que o carro foi feito sob medida para mim. Parece tão natural como uma segunda pele. E essa é exatamente a sensação que se quer ter na Pikes Peak: um carro que seja uma extensão de si mesmo.

Como você se concentra para a prova?
Tenho um ritual que repito sempre: na noite da véspera da corrida pego meu carro alugado e subo até o ponto mais alto para dar uma olhada rápida na vista. Só então consigo ir dormir.

Corrida de montanha ou circuito: qual disciplina lhe parece mais difícil?
A Pikes Peak é especialmente difícil de dirigir. Não quero desmerecer as provas de circuito, mas já participei de tantas corridas de rua, que creio poder julgar. Com 156 curvas, é impossível conhecê-la completamente. E a velocidades que alcançamos hoje – 235 km/h em uma estrada pública praticamente sem barreiras de segurança –, o risco é alto. E a pressão também: você só tem uma oportunidade para demonstrar o que é capaz. Esses 20 quilômetros em 10 minutos são pura loucura.

Texto Bastian Fuhrmann


Pikes Peak

Primeira corrida: 4 de julho de 1916
Altitude na largada: 2.862 m
Altitude na chegada: 4.301 m
Extensão do percurso: 19,99 km
Curvas: 156